Homenagear José Afonso, incentivando a criação musical de raiz portuguesa, foi a razão primeira que nos levou a propor à Câmara Municipal da Amadora a criação de um prémio que distinguisse anualmente um álbum de música portuguesa, cujos temas reflectissem a nossa Cultura e História, tal como a obra do autor de «Grândola».
Desenvolveu-se a ideia e nasceu o Festival de Música Popular Portuguesa da Amadora, o qual, para além da atribuição do Prémio José Afonso, passou a incluir a realização de espectáculos musicais, exposições documentais, debates e a edição de uma revista, a MPP, e de diversos livros sobre a história e os protagonistas desta área da nossa Música.
De 88 até 2002, cumprimos um programa de acções digno, mas que por razões de ordem financeira ficou sempre longe da dimensão do patrono desta iniciativa, mesmo tendo em conta, por exemplo, a realização de dezenas de espectáculos com cantautores portugueses e convidados de vários países da Europa, de África e da América Latina, a edição de 15 revistas MPP e de 3 livros, fontes documentais de consulta obrigatória para quem quiser estudar esta temática, o que aliás já aconteceu, e a atribuição de 15 Prémios José Afonso, distinguindo trabalhos de Fausto, Vitorino, Sérgio Godinho, Júlio Pereira, Né Ladeiras, José Mário Branco, Maio Maduro Maio, Vai de Roda, Gaiteiros de Lisboa, Amélia Muge, Dulce Pontes, Janita Salomé e Jorge Palma.
Em 2003, com «Nove Fados e Uma Canção de Amor», junta-se-lhes Carlos do Carmo, sem surpresa, com naturalidade, se atentarmos na qualidade do que se dá para escutar neste álbum que acrescenta caminho à História do Fado, como já havia acontecido com «Um Homem Na Cidade».
De facto, se tivermos presente o fado que nos foi dado a ouvir durante décadas pelo Estado Novo, apesar de algumas pontuais resistências, vemos que, a partir da segunda metade dos anos 60, começa a registar-se um significativo salto qualitativo graças ao aparecimento de novos compositores, autores e cantores, que inovaram a tradição, modernizando-a tanto do ponto de vista musical como literário, contribuindo também para o aparecimento de um outro imaginário em torno desta forma de expressão musical, proporcionando outras leituras políticas e sociais.
E Carlos do Carmo aparece ligado a este grupo inovador, que continua a rejuvenescer e a redimensionar o fado, dando-nos este seu último trabalho, unanimemente aplaudido, e justamente galardoado este ano com o Prémio José Afonso.
*Director do Festival de Música Popular Portuguesa – Prémio José Afonso
O livro inclui depoimentos de todos os jurados desta edição do Prémio José Afonso: António Victorino d'Almeida, Carlos Pinto Coelho, Fernando Magalhães, João Bernardino, Joaquim Raposo, Júlio Murraças, Olga Prats, Pedro Pyrrait e VT