Fazer justiça

Fazer justiça
Testemunho de Olga Prats*

Ao fim de quinze anos duma continuidade que já se tornou um hábito, este Prémio José Afonso significa que aquela imagem que, nos anos 60, apareceu como uma luz nova, uma luz que nos levava a pensar quando ouvíamos poesia cantada, é uma coisa que perdura, que deixou atrás de si um rasto de ideias que têm sido seguidas. Significa também que nos faz falta uma voz que nos faça pensar, através da poesia, através da música.

Todos estes prémios foram atribuídos a pessoas que viveram e sentiram aquela época, conheceram aquela luz, seguiram aquela estrada. E ao mesmo tempo que o Zeca fazia aquelas baladas que mudaram o sentido da canção em Portugal, havia pessoas que, de modos diferentes, tentavam também dar o seu contributo, prosseguindo a mesma rota de forma paralela. Este ano, o Prémio José Afonso foi atribuído a um homem que seguiu aquele caminho, que trilhou aquela direcção: o Carlos do Carmo.

Nestes quinze anos, é verdade, houve muitas coisas que mudaram. O Prémio foi atribuído a projectos distintos, nem sempre de forma consensual – mas houve sempre a vontade de fazer justiça a quem a merecia. Nós, acima de tudo, queremos honrar a memória de José Afonso. Por isso, dentro de pontos de vista diferentes, fomos dando oportunidade a quem tinha alguma coisa para dizer.

Este ano, aconteceu uma coisa muito bonita: apareceu este disco do Carlos do Carmo. Que tinha de ser premiado. O Carlos foi premiado porque houve uma espécie de encontro, entre a poesia e a música. Tal como o Zeca, ele deu uma grande volta, criou uma arte nova. Percorreu o seu caminho e veio encontrar-se com o Zeca. Para bem da música portuguesa.

*Pianista. Jurado do Prémio José Afonso
In Carlos do Carmo, do Fado e do Mundo | Edição Sete Caminhos, 2003
O livro inclui depoimentos de todos os jurados desta edição do Prémio José Afonso: António Victorino d'Almeida, Carlos Pinto Coelho, Fernando Magalhães, João Bernardino, Joaquim Raposo, Júlio Murraças, Olga Prats, Pedro Pyrrait e VT