Do outro lado do mundo há irmãos meus que sofrem
a fome da justiça que tarda. Os seus nomes escritos em sangue nos muros
gritam em silêncio uma raiva que não passa. Sofrem de amor
ao mundo, sofrem de dor a angústia
de tempos antigos que teimam perseguir os homens livres.
Sofrem, e mesmo assim cantam. Cantos
de alegria imensa por um dia que virá
cedo ou tarde
cobrir a maré vaza do medo com um rumor de tempestade.
Eles sabem: façam o que fizerem os tiranos
nada pode amarrar o pensamento,
ninguém pode impedi-lo de voar.
Por isso cantam. Porque são livres.
E dizem que não há muros capazes de prendê-los,
e um dia novo virá depois da noite. E então
seremos outra vez felizes
e os meus irmãos que sofrem desse outro lado do mundo
hão-de encontrar-se de novo num abraço imenso
e os seus nomes que em silêncio gritam contra a morte
serão enfim um riso
uma bandeira
de amor
e liberdade.
In El Verbo Descerrajado | Ed. Apostrophes, Santiago de Chile, 2005