In-seguranças

In-seguranças

As discussões em volta da cada vez mais premente questão da segurança – ou da falta dela – deram origem, na última semana, a mais um episódio da cada vez mais divertida guerra de comadres entre o PS e o PSD.

Desta vez foi em Oeiras, com os moradores de um bairro de classe média a ameaçarem criar milícias populares se continuar a verificar-se o surto de assaltos que têm ocorrido nos últimos tempos.

O presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino de Morais, aproveitou a deixa para exigir um maior policiamento do seu concelho, acusando o Governo e a polícia de não saberem lidar com estes problemas.

E porque não se sente não é filho de boa gente, o ministro Jorge Coelho veio imediatamente a terreiro afirmar que iria enviar de imediato mais polícias para Oeiras. Concretamente, mais nove elementos do Corpo de Intervenção, enviados na última segunda-feira para Oeiras, para patrulhar a zona do Bairro de Pombal e do Bairro Augusto de Castro.

O PS, obviamente, aplaudiu e contra-atacou, fazendo publicitar um comunicado em que acusava os social-democratas de estarem a "criar um facto político" – o que se compreende, se pensarmos que o PSD é liderado pelo maior criador de factos políticos de que há memória entre nós.

Não deixa de ser curioso este empenho zeloso da generalidade dos partidos políticos,  defensores da ideia de que a insegurança se resolve colocando mais polícias na rua. Não resolve, como se sabe.

Na prática, esta política de combate às consequências sem tomar em consideração as causas, acaba por resultar como um sucedâneo das medidas dos sucessivos  governos na chamada luta contra a droga – que é, aliás, a razão de ser de 90 por cento da marginalidade a que assistimos.

Acentua-se a repressão, mas o problema continua exactamente como dantes. Prendem-se uns quantos traficantes menores, esbofeteiam-se uns drogadinhos, apreendem-se meia dúzia de quilos de haxixe e faz-se de conta que estamos no melhor dos mundos.

Mas ninguém chega aos grandes dealers, os agarrados continuam a roubar por vício e desespero, e as verdadeiras drogas, como a heroína ou a cocaína, continuam a circular por aí, à vista dos polícias e das pessoas.

Enquanto isso, aos políticos continua a faltar a coragem necessária para enfrentar o problema de frente. Porque, para o fazer, iriam correr riscos que nenhum político gosta de correr, sobretudo em ano de eleições.
Afinal, é muito mais cómodo pegar em meia dúzia de polícias e enviá-los para onde a má consciência manda.

RCS | 19.Jan.1999