Não tenho qualquer simpatia por José Sócrates e acredito que possa ser culpado de tudo aquilo de que o acusam e mais ainda. Mas uma coisa é eu acreditar, outra é ele ser, outra ainda é provar que ele o é. E é por isso que o estado de direito funciona como funciona. São as regras da democracia, que podem nem sempre ser justas, mas até ver são as melhores que existem.
Claro que, para o ex-juiz Sérgio Moro, nada disto importa. Nem no Brasil, onde fez condenar sem provas um ex-presidente por razões que já todos percebemos quais são, nem em Portugal, onde veio dar conselhos que ninguém lhe pediu e emitir opiniões que lhe dispensamos a propósito do sistema judicial.
E o pior de tudo é que o fez na presença de um alto representante do governo português e de uma quantidade não despicienda de magistrados e outros putativos agentes da justiça portuguesa, sem que nenhum deles esboçasse sequer um gesto. Já não digo de indignação ou de escárnio, mas pelo menos de legítima defesa.
Mais que não fosse pelo respeito devido à Constituição da República Portuguesa que hoje se celebra e onde se afirma claramente (artº 21º) que «todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão.»
Se atitudes como a do alegado ministro da justiça brasileiro não merecem, no mínimo, um sonoro «vai à merda!», então não sei mesmo para que é que se fez o 25 de Abril.
Aventar - 25.Abril.2019