Enquanto Pedro Santana Lopes for presidente da município, Fausto Bordalo Dias não participará em espectáculos promovidos pela autarquia de Lisboa.
«Não me interessa qualquer tipo de relação com esta Câmara», afirmou o músico à Focus, em comentário ao seu afastamento das comemorações do 25 de Abril, que noticiámos na última edição. «O que me espanta», acrescenta Fausto, «é que um indivíduo que já anunciou publicamente a intenção de se candidatar à Presidência da República não assuma desde já uma postura mais consensual e abrangente para atingir esse objectivo e, pelo contrário, adopte uma atitude própria de um aprendiz de candidato à ‘nova brigada dos coronéis de lápis azul’. Convenhamos que, trinta anos depois do 25 de Abril, é obra!» Um concerto de Fausto esteve agendado para a noite de 24 de Abril, no Terreiro do Paço, mas acabou por ser desmarcado por alegadas «indicações superiores».
Na origem do diferendo está a desmarcação do concerto de Fausto que esteve agendado para a noite de 24 de Abril, no Terreiro do Paço. A EGEAC, Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural, dependente do município, garante que «os critérios de escolha foram exclusivamente artísticos» e que «Fausto foi um entre vários nomes considerados no alinhamento inicial». Segundo a EGEAC, a programação do espectáculo comemorativo do 25 de Abril foi «da inteira responsabilidade do Conselho de Administração da empresa, não tendo sido apresentado para aprovação a qualquer instância».
Fausto, porém, contraria esta versão, tal como a agência responsável pela marcação dos seus espectáculos: «Depois de ter sido confirmado pela EGEAC, o espectáculo foi desmarcado através de um email onde era referido explicitamente que ‘o alinhamento foi alterado por decisões superiores’», confirmou à Focus uma fonte da agência do cantor. Dias antes, a EGEAC comunicara telefonicamente à agência que o alinhamento estava suspenso, a aguardar «a confirmação da presidência da Câmara».
A decisão ocorreu na altura em foi referida pelos círculos do poder a necessidade de «retirar qualquer conotação ideológica ao 25 de Abril» e não surpreendeu Fausto, que foi apoiante de João Soares nas duas vezes que este se candidatou à Câmara de Lisboa: «O que me surpreendeu foi o convite inicial, considerando a natureza da equipa que actualmente governa o município.» E acrescenta: «Bem sei que a Câmara não precisa de mim para nada, mas também é certo que eu não necessito desta gente para coisa nenhuma.»
«Devo dizer», sublinha, «que não me sinto minimamente prejudicado por ter sido retirado do cartaz do espectáculo de Lisboa: tinha um número significativo de convites para esse dia, e acabei por escolher uma cidade onde nunca tinha tocado». A 24 de Abril, Fausto actuou em Sines. E, na próxima sexta-feira, dia 14, à noite, estará na Aula Magna, para um concerto organizado pelo Sindicato dos Professores da Grande Lisboa. É o primeiro espectáculo que Fausto realiza em Lisboa desde o Centro Cultural de Belém, em 1999.
Focus | 12.Mai.2004