Glossário básico skin

Glossário básico skin

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Como todas as tribos, como todas as culturas, o universo skinhead possui uma linguagem própria, nem sempre imediatamente compreensível pelos cidadãos comuns. Foi na Grã-Bretanha que tudo começou. Em Londres, Liverpool, Birmingham, Newcastle. E em Glasgow, na longínqua Escócia, onde no final dos anos 60 a havia a maior concentração de mods (antepassados próximos dos skins), reputados pela violência e pela sua organização em gangs. Daí que a boa parte do léxico skin seja derivado do inglês. Para uma melhor compreensão da reportagem, o leitor pode servir-se deste roteiro, que é também uma pequena viagem pelas origens deste culto de rua.

ACAB - All Cops Are Bastards. Em português corrente pode traduzir-se por "todos os polícias são filhos-da-puta". Título de uma música dos 4-Skins, banda inglesa de "Oi!", feita no início dos anos 80 a propósito dos conflitos entre a polícia e os jovens skins. Reflecte ainda uma atitude vagamente punk perante a autoridade.

Bonehead - Literalmente: cabeça de osso. Sinónimo de "parvo", "cabeça-dura", é a designação que os skinheads dão aos nazi-skins. Simplificado dá bones (ossos), o diminutivo mais depreciativo da comunidade.

Casuals - Os mais discretos dos skins. Evitam o excesso da simbologia e, no estádios de futebol, preferem não se misturar com as claques.

Chelsea - Designação dada inicialmente às namoradas dos skinheads, alargou-se depois às raparigas que integram o movimento. Deriva do nome "técnico" do corte de cabelo que costumam usar, curto em cima e um pouco maior nos lados. Há também quem lhes chame skinchicks.

Cockney - Forma de falar característica dos subúrbios de Londres e que se tornou no "dialecto" dos skins ingleses.

Gótico - Um dos cultos juvenis mais recentes. Cultiva o negro como cor preferida (nas roupas, nos batons, nos adornos), a originalidade e a extravagância. O ponto de encontro dos góticos lusitanos é a "Juke Box", na Rua da Fé, onde existem todas as bebidas de que a tribo gosta, desde o "nosferatu" ao "sangue-de-cristo". Grupos como os Bauhaus e Marylin Manson fazem parte das suas preferências musicais, mas também vão aos concertos punk.

Hammerskins - Género de skins surgido depois do filme "The Wall" que se seguiu ao disco homónimo dos Pink Floyd. Tudo por causa da cena (na música "Up Against The Wall") em que centenas de skins marcham pela rua à caça de "pakis" enquanto um convincente grande líder discursa na televisão com um curioso símbolo por cenário: dois martelos sobrepostos, a lembrar a cruz suástica.

Hippie - A antítese perfeita do skinhead. Cabelo imenso, banho irregular, drogas a granel, carácter tão pacífico que se torna passivo. Pelo menos é assim que os skins os vêem.

Hooligans - São aqueles jovens ingleses simpáticos que costumam animar os jogos de futebol. Surgiram no final dos anos 70, da união de vários skins literalmente doentes da bola. Especialistas em arraiais. De porrada.

Mods - A pré-história skinhead. Surgiram no início dos anos 60 entre os jovens operários ingleses e chamavam-se a si próprios "modernistas". Davam uma atenção excessiva à forma de vestir (fato, gravata e cabelo aparado para as festas), deslocavam-se de scooter e gostavam de soul e rythm'n'blues, em detrimento do então emergente rck'n'roll.

Oi! - A música preferida dos skins. Foi a mais visível herança da "Two Tone". Segundo Gerrard Lindsay, deriva da interjeição cockney "hey!", contracção do grego "oi polloi" (gente comum), e foi a forma que o jornalista inglês Gary Bushell encontrou, nos fins dos anos 70, para designar a música das bandas de rua que tentavam fazer o contraponto do plastic punk em voga na altura.

Pakis - Paquistaneses. A vaga de emigrantes que chegou a Londres nos anos 60 fez deles o alvo preferido dos skins, nazis e outros. "Pik the pak" (a caça ao paquistanês) era mesmo, até há poucos anos, o desporto preferido dos carecas" ingleses de todas as tendências e cores.

Psychobillys - Grupo surgido em torno do culto de duas bandas - The Straight Cats e The Cramps - no início da década de 80. São, de acordo com Fred Scarface, um dos "historiadores oficiais" do fenómeno skin, uma mistura de rockers, no aspecto, e punks, na atitude.

Punk - Nos anos 70 foi a mais criativa de todas as tribos juvenis, tanto em termos visuais como artísticos. Em Portugal, os primeiros skins começaram por ser punks. Ainda hoje, regra geral, convivem bem uns com os outros. À excepção dos bones, claro.

RAC - Rock Against Communism (rock contra o comunismo). Designação do movimento musical apoiado pela National Front inglesa, surgido em fins da década de 70, e que promoveu vários espectáculos de cariz nazi-fascista. A designação foi inspirada pela de uma iniciativa que lhe está nos antípodas: Rock Against Racism.

RASH - Red & Anarchsit Skinheads. Junta skins de esquerda, comunistas e anarquistas. É o movimento mais recente implantado em Portugal, onde conta com núcleos nas áreas urbanas do Porto e de Lisboa.

Redskins - Como o nome indica, reivindicam-se herdeiros do antigo movimento comunista. Anseiam criar a V Internacional. Em Portugal existem desde o final dos anos 80, mas só agora se organizaram na RASH. É também o nome de uma banda inglesa, pioneira nas acções anti-RAC.

Rudys - Designação genérica dos rude boys e das rude girls, movimento de rua surgido, igualmente em Inglaterra no início dos anos 60 entre os imigrantes jamaicanos. O rudy inspira-se nas figuras dos fora-da-lei tradicionais norte-americanos, como Jesse James, Billy The Kid ou Al Capone. A sua música, o reggae e o ska, foi adoptada desde o início pelos skins.

Scooter - O meio de locomoção preferido dos mods, foi igualmente adoptado por muitos skins. As clássicas "Vespa" e "Lambretta" são as mais usadas.

SHARP - Skinheads Against Racial Prejudice (skinheads contra o preconceito racial). Organização não racista, fundada nos Estados Unidos no final dos anos 80 com o objectivo de "informar a opinião pública sobre a verdadeira cultura skinhead, desmarcarar os impostores boneheads e expulsá-los dos bairros por todos os meios necessários". Nos EUA, estas acções foram levadas à letra, com resultados práticos efectivos. A SHARP tem uma secção portuguesa desde 1995.

Ska - Os ingleses chamam-lhe "jamaican blues". É a música de dança preferida dos skins, como já o foi dos mods. E dos rudys, que a trouxeram para a Europa. Baixo, bateria, guitarra, metais e o velho órgão Hammond são a essência do som ska.

Skinhead - O "herói" desta história apareceu pela primeira vez em meados da década de 60. Subestimado, mal amado, frequentemente apelidado de "cro-magnon" e outros epítetos ainda piores. Gosta de cerveja, de futebol e de música em dois tons. A cabeça rapada e as botas com biqueira de aço que são a sua imagem de marca têm origem nos trabalhadores das docas, que terão exigido calçado seguro para o trabalho e rapavam a cabeça como prevenção contra os piolhos.

Spirit of 69 - O ano de 1969 marca o ponto mais alto do movimento skinhead em Inglaterra. A partir daí, os skins repartiram-se por grupos políticos antagónicos, dividiram-se em várias subespécies e muitos dos que tinham estado na "primeira vaga" pura e simplesmente converteram-se à normalidade. Os trads, bem como a SHARP, procuram de alguma forma fazer regressar o movimento a essa "pureza original".

Teds - Os teddy-boys eram o contraponto "middle class" dos mods no início dos anos 60. Gostavam do rock'n'roll e usavam o cabelo impregnado de brilhantina. Elas, algumas, gostavam.

Trads - Os skins tradicionais. Não têm conotações políticas ou ideológicas. São skins, e pronto.

2-tone - Célebre etiqueta musical criada em 1979 com a edição do disco "Gangsters", dos The Specials, teve um papel essencial na divulgação fonográfica do ska. Grupos como os Madness e os Bad Manners passaram por lá.

White power - O mais conhecido movimento bonehead, prima pela supremacia branca e pela preservação da "raça". Em Portugal existe uma organização congénere, a "Orgulho Branco", com ligações a movimentos "civis" de extrema-direita.

O Independente | 16.Abr.1999

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